Rodrigo Bauer é um dos maiores poetas do Rio
Grande do Sul, nasceu em São Borja-RS na divisa
com a Argentina no dia 03 de maio de 1974.
Já publicou vários livros de poesia e já
venceu como letrista os maiores e mais tradicionais festivais nativistas do Brasil.
É um talento indiscutível que possui o respeito e a admiração de todos os que
apreciam a boa musica nativista e missioneira.
Bauer pertence
à nova geração de letristas e poetas do movimento nativista. Nasceu num
berço de influencia poética, e através de seu avô materno, que sempre foi um
leitor da literatura regionalista, conheceu e apreciou trabalhos de escritores
como: Aurelino de Figueiredo Pinto, Vargas Neto, Jose Hilário Retamozo, Zeca
Blau, Aparício Silva Rillo, Jaime Caetano Braun, Lauro Rodrigues, entre outros.
Na terceira série do primário, aos nove anos,
sua professora em sala de aula apresentou uma proposta, onde, era preciso criar
quadrinhas, de maneira que a segunda linha rimasse com a quarta linha. “verso
de quatro linhas”, e a partir de então nunca mais deixou de exercitar esse
oficio.
Já pelos quatorze anos teve a coragem de enviar
o primeiro trabalho para o Jornal A FOLHA DE SÃO BORJA, da cidade de São
Borja-RS, onde o redator era nada mais e nada menos que Aparício Silva Rillo,
que o ligou para que conversassem, trocasse idéias e algumas orientações sobre
o que ler como escrever, tudo para que o trabalho desse novo letrista nativista
engrandecesse.
A partir de então se iniciou uma grande
amizade, pauta em respeito e admiração mutua. Aparício é para Rodrigo Bauer a
sua referência, a sua escola, seu conselheiro, fonte de inspiração, incentivador,
o segundo pai, o “pai da sua poesia”, um amigo para todas as horas.
No primeiro festival importante que Bauer foi
premiado, recorda do abraço que ganhou de Aparício Silva Rillo e da frase que
nunca vai esquecer: “Eu não aposto em cavalo manco”. Ele nunca mudou um verso
meu, sempre me orientou, mostrou-me o caminho, sempre procurou demonstrar como
deveria ser feito, mas, nunca fez, em outras palavras, “ele nunca me deu o
peixe, mas, me ensinava a pescar”, afirma Bauer.
Rodrigo Bauer traz consigo
toda a sanha inspiradora da campanha gaúcha e o telúrico musical que sempre
vingou das canções fronteiriças, essa mescla de milonga e chamamé.
Rodrigo Bauer escuta muito a musica popular
brasileira, obviamente seguindo a linha dos melhores artistas gaúchos, ele
gosta da boa musica independente de onde ela venha. E segundo ele o musico
gaucho é uma referência na musicalidade brasileira, pois, todo o Brasil vem ate
aqui buscar músicos.
Aprecia também a música Argentina e Uruguaia,
reconhece a influencia que essa cultura castelhana tem para com o povo gaúcho.
Eles são um pólo formador da nossa música, destaca Rodrigo.
A primeira composição premiada apareceu no
festival de São Luiz Gonzaga, “O canto dos Sete Povos” e a composição intitulada
“lembranças” em parceria com o Grupo “Santa Fé”, que o acompanhou em diversos
festivais na seqüência.
A composição “O nada”, foi o destaque de sua
carreira por ter conquistado com ela a “Calhandra de Ouro” do festival
“Califórnia da Canção Nativa” de Uruguaiana. Em parceria com Chico Saratt.
Após a parceria com o Grupo “Santa Fé”
(descendente do Grupo Os Angueras), iniciou então trabalhos em conjunto com o
Grupo “Os Angueras”.
Atualmente as parcerias de Bauer têm sido
com, Joca Martins, Jorge Guedes e família, Mário Barbará Dorneles e Edson
Vargas (Cd Cavalo Crioulo), entre outros.
Segundo Rodrigo Bauer, vivemos hoje um
período crítico sobre nossos festivais, há muita dificuldade para a realização
destes, inclusive com falta de recursos, inviabilizando a logística e
infra-estrutura. Impossibilitando a ajuda de custo dos Artistas, e premiações.
Assim retirando muitos Artistas dos palcos dos festivais.
Rodrigo conta que os festivais já viveram
dois períodos áureos, sendo o primeiro deles nos anos 70, com o advento da “Califórnia
da Canção Nativa” de Uruguaiana-RS, explodindo a musica Nativista e Galponeira,
despertando muitos artistas e letristas, e inclusive despertando ainda mais o
amor pelas coisas do pago, dos costumes gaudérios, das lides, do cavalo e da
valorização e dignificação do próprio gaúcho.
O segundo período de ouro foi na década de 90
com o Troféu Vitória, alavancou ainda mais os festivais fazendo com que num
mesmo final de semana tivesse apresentação em até quatro festivais, tendo que
dividir em equipes para ter a representação de suas letras em todos os eventos.
Nessa época em parceria com Chico Saratt, Flávio Hansen, e Vinícius Brum, para
conseguir atender a todos os compromissos.
Sobre julgar ou ser julgado em um festival, por
ser letrista, e acostumado com os palcos, sente-se muito mais a vontade sendo
julgado, pois, “é aqui que estou exercendo meu oficio, sendo julgado eu estou
apresentando o meu trabalho, aquilo que sei fazer”. Afirma Rodrigo Bauer. Sem
contar que a adrenalina de um festival é algo excepcional.
Os festivais contribuem muito para que
tenhamos uma disputa leal, uma “briga” de profissionais pela excelência,
comprovando o que vimos hoje no Brasil, onde quase todas as bandas possuem
músicos gaúchos.
Ser jurado é muito mais difícil, pois, não é
sua profissão. No entanto não pode se furtar de exercer esse ofício, pois deve
dar sua parcela de contribuição para a qualidade da crítica também não seja só
de pessoas que não entendam da composição de musicas.
Rodrigo Bauer é vencedor de mais de 40
festivais, entre eles a “Califórnia da Canção Nativa” de Uruguaiana, a “Sapecada
da Canção” de Lages-SC, a “Moenda da Canção”, “O Rio Grande Canta o
Cooperativismo”, “Um Canto para Martin Fierro”, a “Tafona da Canção”, “o Grito
do Nativismo”, a “Ronda de São Pedro”, “o Bivaque” e “a Sesmaria da Poesia
Gaúcha”, entre vários outros.
Recebeu, em 1998, do Governo do Estado do Rio
Grande do Sul, o Troféu “Vitória” nas categorias: melhor compositor do ano,
melhor letrista do ano e melhor canção do ano. Tem mais de quatrocentas músicas
gravadas pelos maiores intérpretes e grupos musicais gaúchos.
Sobre seus livros Rodrigo descreve que já são
cinco livros. O sexto livro, que já está em construção, tem por título “A Voz dos
Lenços”. Rodrigo descreve com exclusividade ao Galpão, Pátria e Poesia, que a
história desse livro conta sobre nossos avôs que politizaram o Rio Grande do
Sul através de dois matizes, dois lenços o Branco “Chimango” e o Vermelho
“Maragato”. Pois esses lenços tinham voz porque se apropriaram da voz das
gargantas que eles próprios cingiram na época, apesar de serem inanimados. São poemas
relacionados à politização do nosso Rio Grande do Sul.
Bauer aprecia muito o esporte, inclusive foi nomeado pelo Sport Clube Internacional
Cônsul Cultural Colorado, onde recebeu a certificação pelas mãos do eterno
ídolo colorado Fernandão.
Mas como surgiu a Letra “Sem Tinta”? Nessa
ocasião Rodrigo Bauer estava na maior feira do livro do interior do estado do
Rio Grande do Sul, na cidade de Bento Gonçalves-RS, dirigida por Pedro Junior da
Fontoura, junto com Mário Barbará, e tendo a feira como seu patrono Colmar
Pereira Duarte. Nessa oportunidade em um entrevista para uma rádio local foi
perguntado por jornalistas: como é viver
na campanha? Olhando para nós (Mário Barbará e Rodrigo Bauer) jamais tu
vais encontrar aquele gauchinho do topete de mate de rodoviária, aquele
gauchinho de cartão postal, nós somos o gaúcho de verdade, não somos aquele
gaúcho que só desfila nem aquele que vende uma imagem estereotipada, nós somos
aquele que não sai em fotografia. Responde Mário Barbará.
A Letra:
SEM TINTA
(JORGE GUEDES E FAMÍLIA)
Eu sou o próprio gaúcho sem
tinta e sem fantasia
Venho do ermo do pampa, com
sestro e com rebeldia!
Não trago nenhum discurso
dobrado embaixo do braço
o que é preciso ser feito,
eu não enfeito, mas faço!
Meu laço não é bonito, mas
me garante o sustento
E quando cerra, estou certo
que não “remalha” um só tento!
O meu apero não brilha,
porque já é veterano
Não é dos que vêem cavalo
somente uma vez por ano!
Sou o gaúcho dos campos, não
o das fotografias
Pra quem a lida de campo
jamais foi uma utopia
Eu não desfilo nem danço,
nunca fui numa mateada
Mateio à beira do fogo nos
braços da madrugada!
Eu sou o próprio gaúcho não
sou um tipo oficial
Marcado e assinalado por um
galpão regional
Me gusta ser orelhano, sem
fronteira ou documento
Meu ancestral, o gaudério,
não tinha regulamento!
Quando as bandeiras desfilam
no colorido da praça
Estou no fundo do campo como
um guardião desta raça
Eu evito os refletores, no
meu exílio campeiro
Eles agridem meus olhos que
são irmãos do candeeiro!
Ataliba
de Lima Lopes, (Poeta Nativista), destaca o sucesso que a letra faz por tratar
a realidade de um gaúcho que foge de toda a mídia, demonstrando o que realmente
significa ser gaúcho na campanha.
Rodrigo Bauer, um dos maiores poetas do sul
do Brasil, talento indiscutível que nasceu no berço da poesia, sendo um
discípulo de Aparício de Silva Rillo, relata que está por volta de
quatrocentas e poucas composições escritas. E com 78 parceiros diferentes na musica.
Segundo Bauer a Rádio Verdes Pampas foi à emissora
que fez nascer nele o gosto pela musica nativista e também foi à primeira
emissora que divulgou e catalisou o seu trabalho através de Valtenor de
Almeida.
Bauer relata ao Galpão, Pátria e Poesia, seu
novo projeto, “Leiloeiro Rural”, ele revela que nasceu em função das parcerias
musicais. O primeiro leilão foi iniciação do cantor Edson Vargas, através da
empresa “Boqueirão Remates”, sendo que a ideia de tirar a licença de leiloeiro foi
de joca Martins.
Rodrigo Bauer falou também sobre a diferença
entre a composição de uma Poesia e de uma Letra a ser musicada. Relata que a
diferencia crucial entre elas está basicamente no tamanho (estética). Em poemas
a ser declamado procura-se ser um pouco mais extenso e em uma letra a ser
musicada ela precisa ser sucinta, precisa ter síntese, passando sempre uma
mensagem para quem aprecia. Bauer confessa que prefere sempre escrever uma
poesia.
O Programa e Blog GALPÃO, PÁTRIA E POESIA, através
de seu Poeta Nativista, Ataliba de Lima Lopes, agradece imensamente ao grande
compositor Rodrigo Bauer a disponibilidade de estar em nosso galpão. Rodrigo,
uma pessoa agradabilíssima, de rara simplicidade e sabedoria, têm em seu
trabalho uma referencia de qualidade, em suas composições trazem mensagens, não
só refrões, e não à toa, Rodrigo Bauer é considerado o mais fiel discípulo do
Grande Poeta Aparício Silva Rillo, e com certeza Rodrigo Bauer sabe da
importância que essa comparação trás para sua carreira.